sexta-feira, maio 09, 2025

“KARATÊ KID: LENDAS” (Karate Kid: Legends)

Foto: Sony Pictures
“KARATÊ KID: LENDAS” (Karate Kid: Legends), dirigido por Jonathan Entwistle e roteiro de Rob Lieber, é uma tentativa de unir diversas gerações de admiradores da franquia iniciada em 1984, e que gerou até uma série, “Cobra Kai”. Porém apresenta um fio de história, com diálogos péssimos e atuações lamentáveis. O que pode ser atraente é a aparição de diversos personagens, que estiveram presentes nos outros filmes, como Ralph Macchio, Jack Chan e uma singela homenagem a Pat Morita (1932-2005), o senhor Miyagi dos quatro primeiros longa-metragens.
A trama é basicamente uma cópia da história original, praticamente mudando só o destino final do protagonista, vivido por Ben Wang, que interpreta o jovem chinês Li Fong, estudante de kung fu que muda com a mãe, vivida por Ming-Na Wen, de Beijing para Nova Iorque, devido ao novo emprego dela, em um hospital.
Logo na sua chegada, já arranja um crush, a jovem Mia (Sadie Stanley), que claro, é ex-namorada de Connor (Aramis Knight), rapaz que será o antagonista de Li e também filha do dono da pizzaria, que tem uma dívida com o dono de uma academia de karatê – que vem a ser o treinador de Connor. E os vilões são um primor de clichê: mal-encarados, praticamente não falam uma frase completa, só fazem cara feia e resmungam.
As conveniências do roteiro são gritantes, exageradas – logo Li estará envolvido em um torneio de karatê, onde terá apenas dez dias para treinar. É aí que ressurgem as figuras de Jack Chan, presente no malfadado filme de 2010, com Jayden Smith, e Ralph Macchio, o Daniel San, dos clássicos dos anos 1980.
E tudo acontece tão rapidamente, tão vertiginosamente, constatação feita nas imagens de videogame presentes no filme, que por um lado pode ser visto como uma benção. Pois a tortura acaba rapidamente, para alívio do público.
Cotação: ruim
Duração: 1h34
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=j_Z5so0LjG0

quarta-feira, abril 30, 2025

“HOMEM COM H”

Foto: Paris Filmes
“HOMEM COM H”, DIRIGIDO POR ESMIR FILHO, ESMIÚÇA ao longo de mais de duas horas a complicada e maluca vida do cantor sul-matogrossense Ney Matogrosso, que completará 84 anos de idade em 1º de agosto. A trama é convencional, transcorrendo principalmente nos anos 1950, 1960, 1970 e 1980, começando em sua infância controlada por um pai militar, Antônio Matogrosso Pereira, vivido pelo ator Rômulo Braga. e que não aceitava já à época os trejeitos afeminados do garoto. E esse embate entre pai e filho vai permear quase todo o filme, entremeado por números musicais.
Depois de ser expulso de casa, Ney, interpretado por Jesuita Barbosa, parte para o Rio de Janeiro, onde servirá na Aeronáutica, onde cenas tensas entre ele e um colega já mostram o homoerotismo que virá em seguida e em boa parte do longa-metragem.
A história também mostra a sua vida como hippie até a entrada no grupo musical Secos e Molhados, onde começará a conhecer o sucesso, e de onde acabará saindo por divergências contratuais, para uma carreira solo de sucesso.
Em sua carreira solo, Ney peitou censores, com danças altamente sexuais, olhares inquisidores – em uma cena marcante, três censores tentam negociar menos rebolados do cantor em uma apresentação em Recife nos anos 1970. Afinal, vivíamos naqueles anos uma forte repressão do governo militar e sua intensa Ditadura.
Falando em Ditadura, o pai conservador do artista só começou a aceitar e reconhecer o talento do filho ao assistir ao primeiro show solo de Ney, “O Homem de Neanderthal”, em 1975.
Já na década seguinte, o roteiro focou nos grandes amores na vida de Ney, a relação intensa e difícil com o rebelde Cazuza (1958 – 1990), interpretado pelo estreante Jullio Reis – corrigindo erro da própria cinebiografia do cantor do Barão Vermelho, que apagou qualquer traço do relacionamento dos dois, e depois com o advogado Marco de Maria, outro grande amor da vida de Ney, vivido por Bruno Montaleone. Ambos foram vítimas do vírus da AIDS, mostrando a crueza daqueles anos.
“Homem com H” tem de destacar o maravilhoso trabalho de caracterização de Jesuita Barbosa, que encarnou com precisão os jeitos, olhares, gestos de Ney. Uma cena que mostra a gravação de um videoclipe para o Fantástico ainda na fase com os Secos e Molhados é tão perfeita, que o espectador pode jurar que foram usadas as imagens reais da época, tal perfeita a caracterização.
Porém, Jesuita não cantou nos números musicais, dublando as canções de Ney Matogrosso, que possui uma belíssima voz de contralto.
O nome do filme faz referência ao estrondoso sucesso do disco Ney Matogrosso de 1981, com o forró “Homem com H”, criada por Antonio Barros, e que só foi gravada pelo cantor por insistência do músico Gonzaguinha (1945 – 1991), filho de Luiz Gonzaga, o rei do baião (1912-1989).
Enfim, a vida de Ney Matogrosso é bem retratada, mostrando a luta de um homem pela liberdade e poder ser quem ele é.
Cotação: Excelente
Duração: 2h09min
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=tHlkkfoMwFo

quinta-feira, abril 24, 2025

“O CONTADOR 2” (The Accountant 2)

Foto: Warner Bros.
“O CONTADOR 2” (The Accountant 2) chega aos cinemas nove anos depois de sua primeira parte, e novamente dirigido por Gavin O’Connor, e tendo Ben Affleck como o protagonista. Ele interpreta o contador do título, Christian Wolff, que fazia trabalhos de contabilidade para criminosos e que é portador de espectro autista, possuindo incríveis habilidades matemáticas, e também um exímio lutador.
Nesta sequência, Christian vive escondido, mas acaba retornando à ativa depois que um ex-agente do FBI, (J.K. Simmons) é assassinado. Então, a Diretora Adjunta do Tesouro dos EUA, Marybeth Medina (Cynthia Addai-Robinson), ex-parceira de King, pede ajuda a Christian para investigar o crime, e começa a descobrir um esquema de tráfico humano.
Percebendo que o caso é mais complicado do que imagina, o contador contata o irmão mais novo, Paxton (Jon Bernthal, um matador de aluguel e com quem não tem boa relação. Os dois são completamente diferentes, sendo que Paxton ainda pratica bullying com o irmão autista. Mas se unem para enfrentar a rede de traficantes de seres humanos.
Affleck está muito bem em cena, com duas cenas muito divertidas. Numa, logo no começo, seu personagem vai em um programa de encontro às escuras e, sua honestidade extrema e habilidade com números, acabam afastando as mulheres, que haviam ficado encantadas com sua beleza. E na outra, ele vai a um bar country com Paxton e acaba atraído pela garçonete, porém não sabe como agir com ela, devido ao seu jeito travado.
Aliás, o contador é ajudado em sua missão por um grupo de adolescentes superdotados em tecnologia, e que ficam alojados em uma mansão muito semelhante a Escola Xavier, dos X-Men. A pergunta que fica é: quem cuida destes jovens, quem os alimenta? Eles passam as 24 horas do dia em plantão, para ajudar Christian. O roteiro, no entanto, é muito cuidadoso em como os autistas são mostrados, jamais os ridicularizando ou desrespeitando.
Já Bernthal repete o mesmo tipo de outros filmes de ação da qual participa, do matador ágil e durão – vide o recente “Operação Vingança”.
“O Contador 2” tem roteiro de Bill Dubuque, que também foi o responsável da primeira parte. E é repleto de clichês dos filmes de ação, com muitas sequências de tiroteios, cujos atiradores são completamente incompetentes em acertar um mísero tiro nos mocinhos, , muitos socos e explosões. E as cenas são forçadas ao extremo, difíceis de engolir. Só que acaba divertindo, se a gente não pensar muito.
Cotação: regular
Duração: 2h05min
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=fL5OopLm2tM

domingo, abril 20, 2025

“PECADORES” (Sinners)

Foto: Warner Bros.
“PECADORES” (Sinners), dirigido por Ryan Coogler, é uma das melhores surpresas deste ano, em uma trama que transcorre na década de 1930, no Mississippi controlado pelas leis segregacionistas de Jim Crow, e com toques de terror.
O filme tem como protagonista Michael B. Jordan, que interpreta os irmãos gêmeos Fuligem e Fumaça, que voltam à sua segregada cidade natal, dominada pela Ku Klux Klan, depois de alguma forma terem enriquecido na nortista Chicago. Eles pretendem abrir uma boate, onde os negros poderão ir para escutar Blues – a música dos negros escravizados. Para tanto, arregimentam o primo Sammie Moore (o estreante Miles Caton), que é um garoto aspirante a músico, e que sofre a oposição do pai, um pastor, que acredita ser o Blues o som de pecadores, não sendo coisa de deus.
“Pecadores” é tão bem esquematizado, detalhista, que o diretor leva mais de uma hora apenas apresentando os personagens e fazendo o público ter empatia por eles, como Grace e Yao, os donos chineses de uma mercearia, Mary (Hailee Steinfeld), uma garota negra que, por ter a pele mais clara, se passa por branca; a curandeira local Annie (Wunmi Mosaku).
E qual a surpresa do espectador, quando de repente, um filme que fala sobre os cidadãos negros tentando sobreviver ao racismo vigente, a trama apresenta os sanguinários vilões, vampiros, que desejam controla-los. Ou seja, uma alegoria de a população negra nunca ter sossego, tendo de se submeter aos seus senhores, tanto que o vampiro líder é branco, vivido pelo ator Jack O’Connel, do baita seriado sobre a II Guerra Mundial “SAS: Rogue Heroes”.
“Pecadores” tem muito de Quentin Tarantino, com cenas de pura violência e subversão da realidade – quando, por exemplo, um dos irmãos fuzila uma tropa da Ku Klux Klan, emulando “Bastardos Inglórios”.
Mas é uma cena da boate que salta aos olhos, quando os personagens dançam – com a cena transportando para várias etapas da evolução da música negra, do Blues, Rock, chegando até mesmo ao atual Rap e Hip Hop, numa sincronia maravilhosa.
O filme é muito bem executado, apresentando uma riqueza de detalhes da triste época retratada. A direção de arte e o figurino reforçam a ambientação histórica.
A bela trilha sonora, excepcionalmente regida pelo maestro sueco Ludwig Göransson, centrada no Blues, transcorre perfeitamente entre a narrativa, embalando ainda com maestria as cenas de maior tensão. Eu saí do cinema extasiado.
Cotação: Excelente
Duração: 2h17min
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=YK4H0e5v_ko

“NAS TERRAS PERDIDAS” (In The Lost Lands)

Foto: Diamond Films
ADAPTADO DE UM CONTO DE GEORGE R. R. MARTIN (Game of Thrones), "Nas Terras Perdidas" (In The Lost Lands), é dirigido por Paul W. S. Anderson, e tem como protagonista a sua esposa, Milla Jovovich. Ela interpreta a feiticeira Gray Alys, que após escapar de uma execução, precisa fugir da perseguição de soldados de um reino comandado opressivamente pela igreja, em um filme que se passa num futuro pós-apocalíptico, mas com regras.
E a bruxa recebe o pedido da rainha Melange (Amara Okereke), que deseja se tornar um metamorfo (um humano com poderes de se transformar em outros seres). Assim, Alys deve capturar nas distantes Terras Perdidas um lobisomem, que tem a maldição de alterar a sua forma física.
Para poder cumprir a missão, Gray se une ao caçador experiente Boyce (Dave Bautista), que conhece como ninguém os perigos das Terras Perdidas. E os dois partem em uma jornada fantástica em busca da captura da criatura mística.
O filme, evidentemente, é uma fantasia. Porém, é um apanhado de cópias muito ruim de outras obras cinematográficas, como por exemplo “Mad Max” e “Senhor dos Anéis”.
Anderson apresenta uma direção nada inspirada, num pastiche completo, com cenas exageradas, mal filmadas, atuações forçadas dos atores, e um plot-twist completamente inverossímil.
Cotação: ruim
Duração: 1h41min
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=b3ZththVl50

“A MAIS PRECIOSA DAS CARGAS” (La Plus Précieuse Des Marchandises)

Foto: Paris Filmes
“A MAIS PRECIOSA DAS CARGAS” (La Plus Précieuse Des Marchandises), direção de Michel Hazanavicius — cineasta de “O Artista”, vencedor do Oscar em 2012, é inspirado no conto homônimo de Jean-Claude Grumberg.
A animação é ambientada durante a Segunda Guerra Mundial, envolvendo os horrores do Holocausto, com Hazanavicius construindo um conto de fadas pesado, tentando mostrar que um ato de piedade e amor pode se tornar um ato de resistência.
Em um país não identificado do leste europeu, onde o genocídio praticado pelos nazistas, foi mais violento e cruel, um humilde lenhador e sua esposa vivem em uma grande floresta, onde em sua fronteira passam, frequentemente, trens – são os infames transportes de judeus para os campos de concentração. O casal leva uma vida sofrida, em constante desafio contra a fome e o frio.
Até que um dia de forte nevasca, a mulher – os personagens não possuem nomes – está na floresta atrás de lenha, quando escuta o choro de um bebê. Ele foi jogado de um trem de prisioneiros, provavelmente por uma mãe desesperada. A mulher acaba pegando a criança e levando para casa, e a princípio o lenhador é contrário à presença daquele pequeno ser na humilde cabana deles, sendo que é uma boca a mais para alimentar. E apesar de sua ignorância, o homem sabe o que pode acontecer com quem ajuda ou esconde judeus, serem eles de qualquer idade.
A batalha da mulher passa a ser alimentar o bebê e escondê-lo das autoridades, enquanto vê uma incrível transformação na sua vida e de seu marido. “A Mais Preciosa das Cargas” acaba sendo um belo filme de resiliência e de esperança no meio de um mundo cruel e sanguinário. Uma animação emocionante.
Cotação: Excelente
Duração: 1h21min
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=SX5P0xkoP64

“SOBREVIVENTES”

Foto: Pandora Filmes
“SOBREVIVENTES” é a obra derradeira do cineasta luso-brasileiro José Barahona, falecido em novembro de 2024, aos 55 anos de idade. A trama acompanha um grupo de sobreviventes de um navio negreiro no Século XIX, que naufraga no Oceano Atlântico. No princípio, duas mulheres brancas e quatro homens brancos se encontram numa praia deserta, e passam dias sem saber o que fazer para tentar escapar da morte.
Até que surge outro náufrago, o negro escravo João, visto por todos apenas como um objeto sem valor, sendo apedrejado, cuspido e amarrado pelos brancos – um padre católico chega a dizer que João é apenas um animal, pois os negros não são seres humanos, numa crendice imposta pela igreja católica através da bíblia.
Porém, em gesto de sobrevivência, João toma o controle do grupo, e é com ele que todos sobrevivem. E tentam chegar a um lugar mais seguro da ilha, onde acabam encontrando outros negros sobreviventes do naufrágio e que estão sedentos por vingança.
“Sobreviventes”, com excelente fotografia em preto e branco, é um retrato cruel e fiel do que passaram milhões de pessoas tiradas de suas terras no Continente Africano, e trazidos à força para a América, vistos apenas como mão de obra.
A história de “Sobreviventes” foi criada por Barahona e desenvolvida em parceria com o escritor angolano José Eduardo Agualusa, autor de livros traduzidos em mais de 30 idiomas e vencedor de prêmios como o Independent Foreign Fiction Prize, no Reino Unido, e o Prêmio Literário Internacional de Dublin.
Agualusa é conhecido por abordar em sua literatura as heranças do colonialismo, os cruzamentos entre memória e identidade e as cicatrizes deixadas pela escravidão. Entre seus títulos estão “Nação Crioula”, que imagina cartas escritas pelo personagem Fradique Mendes sobre sua vivência em Luanda e seu amor secreto pela ex-escravizada africana Ana Olímpia; “O Vendedor de Passados”, que investiga a reinvenção das memórias em uma Angola pós-colonial; e “Teoria Geral do Esquecimento”, ambientado no período da independência angolana e centrado na metáfora do isolamento como reflexo da memória coletiva.
O escritor angolano conta que o que mais lhe interessou quando o diretor José Barahona pediu para que contribuísse para a escrita do roteiro do filme “foi trazer a voz dos africanos, trazer a perspectiva desses africanos sobreviventes. Mostrar que eles nunca foram sujeitos passivos da sua história, foram sujeitos ativos dessa mesma história. Os africanos sobrevivem ao naufrágio, mas sobrevivem, sobretudo, a um processo de sequestro. Então, esse foi todo o meu esforço maior”.
A produtora do filme, Carolina Dias, também companheira de Barahona, explica que o projeto foi filmado entre maio e junho de 2022 em Portugal e que o cineasta “sempre teve uma relação íntima com o Brasil, e se questionava sobre o passado de 'glórias' de Portugal. Ele buscava olhar para o outro lado dessas ‘glórias’. A outra versão da história, aquela não contada oficialmente. Nisso ele teve a ideia do filme, um naufrágio com negros e brancos e a possibilidade de, na luta pela sobrevivência, escolher entre reproduzir comportamentos do passado ou criar uma nova estrutura de sociedade”.
A trilha sonora original é assinada por Philippe Seabra, da banda Plebe Rude, e ganha contornos ainda mais emocionais com a participação especial de Milton Nascimento, que empresta sua voz a uma das faixas do filme, ampliando sua dimensão simbólica e afetiva.
Cotação: ótimo
Duração: 1h11min
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=Zh6Bc_38YqI

“KARATÊ KID: LENDAS” (Karate Kid: Legends)

Foto: Sony Pictures “KARATÊ KID: LENDAS” (Karate Kid: Legends), dirigido por Jonathan Entwistle e roteiro de Rob Lieber, é uma tentativa de...